Mestres do Saber
A sabedoria popular sempre foi uma ferramenta para a evolução da
humanidade. Líderes de todas as etnias sempre deram um valor especial a ela,
orientando-se pelos seus sábios.
Um mestre sempre tem seu seguidor para a continuidade de suas
práticas, seduzindo as comunidades por onde passa através da oralidade. Todo o
mestre tem esta tarefa a cumprir, com precisas verdades de suas vivências ou
transmissões do conhecimento.
Uma informação, por muitas vezes, não se pode mudar nenhum ponto,
como por exemplo: para a localização de um ponto d’água ou como obtê-la no
deserto do Saara. O erro desta orientação pode colocar em risco todo um grupo
que precisa desta orientação para fazer sua jornada.
No Brasil, há Mestres dos mais diversos segmentos da tradição
negra, tendo informações necessárias para manter viva a identidade de seus
ancestrais, contando historias de seu tempo através da musica, da sua
religiosidade e da educação familiar, princípios da vida, a relação com o meio
ambiente, e as diversas formas de luta e dança na resistência de um povo
guerreiro que se manteve com dignidade na luta pela sua liberdade.
Quando o saber não é transmitido, nossos jovens perdem sua
identidade, desrespeitando e perdendo a noção de valores de seus ancestrais. A
transmissão através da palavra torna a pessoa responsável pela sua divulgação,
conforme a sua intenção. Nos terreiros, as yalorixás, na capoeira dos malandros
e nos sambas, os mestres e guardiões da historia oral.
Atualmente surge uma nova versão do Mestre do conhecimento, que
busca dos sábios o máximo de informação possível, medindo, comparando sua importância,
escrevendo teses e pensamentos e o saber muitas vezes é reciclado para um dia
ser reaproveitado ou registrado como lembrança do passado. A autoria do
conhecimento limita a sua evolução e a liberdade, não permitindo dialogo e
crítica, com propostas de evolução do pensamento original.
Os mestres, enquanto tradição educacional são descartados,
perdendo sua importância. A cultura supervalorizada, distanciada de sua origem
e vendida em nível de exportação, dando uma roupagem a expressão “Cultura Brasileira”,
e os verdadeiros donos, os negros, são esquecidos e abandonados. Alguns poucos
mestres com coragem acabam saindo do país, na sua busca de auto sustentação,
com o instrumento de transformação e solidificação da humanidade. O que, na
verdade, dá status nacional nos meios de comunicação e expressão desta nova
cultura de massa, também tem que ter um rosto ou perfil que agrade o publico
alvo, porém torna-os cada vez mais distantes da raiz.
Devido a esta realidade é cada vez mais importante resgatarmos
nossa verdadeira identidade negra, utilizando as ferramentas que estão a nossa
disposição, de forma que todas as pessoas possam ter acesso livre, através da
internet, a essas informações da arte de viver negra, que seduz estudantes de
todo o mundo.
Como primeira experiência, estamos com a proposta de lançarmos um
livro de nossas vivencias educacionais, para que possamos trocar praticas
milenares com outros destas áreas, construir um dialogo de aprendizado e
construção de nossa tradição, com os mais diversos saberes, com quem tiver
interesse, sem limitações ou intermediários, na evolução destes diálogos.
Buscamos destacar a historia da capoeira de raiz, a confecção dos
tambores e sua simbologia, o samba de umbigada desenvolvido no grupo, as tribos
carnavalescas quase extintas no estado, o Moçambique no interior do estado, os
quilombos gaúchos e suas dificuldades e conquistas, e especialmente as vivências
destes mestres e guardiões.